quarta-feira, junho 9

Não foi meu eu lírico, fui eu mesma

Vai ver, viver é isso aqui mesmo. Não saber o que fazer com a cabeça, não saber onde pôr as mãos. Se desliga o telefone, se toma remédio pra dormir. Se é melhor contra estrelas, se concentrar num pêndulo. Vai ver, viver é se desesperar tanto ao ponto de acreditar que Deus é pai e chorar com as mãos na cabeça, de joelhos no chão, gritando abafado (porque enquanto sofremos o resto do mundo finge que dorme um sono merecido): “Eu ordeno que pare!” Vai ver, viver é achar que a gente manda em Deus também. É não saber o que falar quando tudo o que precisamos é falar. É sentir cheiro de comida e querer vomitar. Vai ver, viver é colar boca com boca e mesmo assim não saber o que fazer, é ouvir “eu te amo” e não saber pra onde olhar, é não ter um lenço pra secar as lágrimas. Vai ver, viver é rolar na cama, apagar, acender a luz, ler um livro, escrever um poema, pensar em ti, pensar no frio. Porque a vida é cheia de “não sei pra onde ir”, repleta de “ não sei o que fazer”. E toda dor se mistura com toda cura, e isso é a vida. É a anciã de sumir pra longe de ti... não, é a ânsia de correr pra ti, porque eu me recuso a acreditar na cigana que disse que eu hei de ficar só e que isso é pena porque eu amo demais e quem ama demais é penalizado. Ou eu falei demais sobre a vida e eu nem sei o que é isso direito. E tu não sabes também o que é isso e eu não ajudo porque eu sou brega e digo que te amo, mais que paixão, mais que beijos nas costas, mais que dividir cama de solteiro, te amo, e não sei o que faço pra te ajudar.

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