Um pagode

Dei pra você o que ganhei de ninguém
O que ganhei de você tive que dividir
Um pedaço de cor, um pedaço de amor, um pedaço de calor
Malabares com esses três pedaços para não cair
Para eu não ficar com o pedaço de dor
Fiquei
Com o pedaço de dor
Você ficou ganhando tudo sem ter que dividir
De camarote assistindo ao espetáculo
Na corda bamba, sem poder cair
Entre um coração e outro tem uma corda
Caminho nela e trago minha alma na mão
Ah, minha alma
Eu te dei minha alma
Não vendi não
Eu te dei minha alma
Não aluguei não
Eu te dei minha alma
Não emprestei não
Foi tudo de graça e de boa vontade
Ah, minha alma
Agora me diz se é certo
Me diz se é bonito e educado
Tamanha falta de gratidão
Sacanagem e falta de consideração
Me deixar assim, amado
Sair calado
Levar minh'alma
Tomar os pedaços de tudo que me deu
Entregar um tanto e coisas inteiras ao sol
E ainda querer o sol
E ainda querer a lua
Aquele só sai depois que esta vai, vê se entende
Ela foi (beijo, lua!)
Se vira com o sol
Eu não fui porque entre um coração e outro existe uma corda
Bamba, muito bamba, toca um samba
Ando, danço, rebolo e nem caio
Tô na corda
Sem nem querer mais
Vê se me tira daqui, é que tenho medo de altura
No chão hei de me sentir mais segura
Vou junto com a lua
Vou fundo com a lua
Se vira aí com o sol
Ah, minha alma
Que não te foi vendida, alugada e nem emprestada
Foi dada
Será tomada
E não reclame disso, dizendo que não é certo, bonito e nem educado
Mais feio é me deixar, amado
Enrole esta corda, receba este pedaço de dor (bem, pegue de volta o que não é meu), e guarde aí este meu coração
E não se esqueça: na próxima vez que ganhar de alguém o que não foi dado a ninguém, não retribuir com pedaços, não ser sacana nem ingrato.
Que amor é coisa séria, amor é pra quem aguenta, amor é pra quem entende.
Vê se aprende.